1 de set. de 2009

Era assim que os Brasileiros viam o Brasil

Graça e Paz!




No livro Inocência escrito pelo Visconde de Taunay (1843-1899) e publicado em 1872, conta a paixão proibida de Inocência - filha de um sertanejo rústico prometida à um tal de Manecão - e Cirilo – médico tipo da época. Um livro que mostra o temperamento inabalável do sertão. Nele tem uma conversa entre um naturalista alemão (Meyer) e Pereira ( pai de Inocência). Neste trecho fica claro o pensamento eufórico que existia quanto a riqueza do Brasil.




(...)
Começou o naturalista a mastigar com a lentidão de um animal ruminante, interrompendo de vez em quando o moroso exercício para exclamar:
--Delicioso, com efeito! Muito delicioso.
(...)
--Na Alemanha, observou Meyer contemplando um grão de feijão, a maior fava não chega a este tamanho. Aqui a fava de lá teria polegada e meia pelo menos. Um almoço, assim, havia de custar na Saxônia dois táleres, ou pelo câmbio que deixei no Rio de Janeiro, dois mil e quinhentos réis...
Interrompeu-o Pereira com gesto cômico.
--Dois mil e quinhentos? Ora, que terra essa! Como é que se chama?
-- Sac-sônia, respondeu o alemão com gravidade.
--Saco-sonha! exclamou Pereira. Não conheço... Mas, então lá muita gente há de andar a morrer de fome...
--Pelos últimos cálculos, replicou Meyer com várias pausas durante as quais introduzia enormes colheradas da mistura que lhe aconselhara o anfitrião, é sabido que em Londres morrem no inverno oito pessoas à míngua, em Berlim cinco, em Viena quatro, em Pequim doze, em Iedo sete, em...
--Salta! atalhou Pereira exultando de prazer, então viva cá o nosso Brasil! Nele ninguém se lembra até de ter fome. Quando nada se tenha que comer, vai-se no mato, e fura-se mel de jataí e manduri, ou chupa-se miolo de macaubeira. Isto é cá por estas bandas; porque nas cidades, basta estender a mão, logo chovem esmolas... Assim é que entendo uma terra... o mais é desgraça e consumição . . .
--Decerto! corroborou o alemão, o Brasil é um país muito fértil e muito rico. Dá café para meio mundo beber e ainda há de dar para todo o globo, quando tiver mais gente... mais população...
(...)

(Inocência – Capitulo XI – O Almoço, pág 62)


Era assim que os Brasileiros viam o Brasil naquela época...

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